A Prostituta e a Baleia
(La Puta Y La Ballena, dir. Luis Puenzo,
Espanha/Argentina, 2004, 120 min., 16 ANOS)
“Se com uma foto se rouba a alma, roubei a sua naquela noite.
Sua lembrança continua imóvel, captada nessa foto como um anjo caído”. Assim
escreveu o fotógrafo argentino Emilio, do front
da guerra civil espanhola, para sua amada Lola, antes de morrer abatido pelas
forças franquistas. Roubara-lhe, no entanto, mais do que a alma quando, alguns
anos antes, os amantes – ela, corista catalã de passagem por Buenos Aires; ele,
fotógrafo de eventos banais – resolveram largar tudo e partir para uma aventura
na Patagônia.
Setenta anos depois, outra catalã, a escritora Vera, também
busca novos rumos para sua vida. Seu editor lhe propõe escrever um texto para
um livro de fotografias que ilustraram capas de partituras de tango e cuja
autoria ainda permanecia um mistério. Acompanhavam as fotografias algumas
cartas e trechos de um diário. Assolada por conflitos pessoais e pela suspeita
de um câncer, a escritora mergulha na fantasia enquanto tenta juntar os pedaços
de uma tórrida porém trágica história de amor. Essa procura leva-a até a
Patagônia, onde baleias colossais mergulham em paisagens monumentais.
Nesse filme denso e sensual, o fotógrafo e a fotografia, mais
uma vez, são como heróis que ultrapassam seu tempo, assombrando o futuro com os
vestígios do passado. Ali, Vera descobre que, como nos negativos de Emilio,
“tudo é ao contrário, até a lua é ao contrário”. E nos faz relembrar uma das
definições de Susan Sontag para a fotografia: “tomar uma fotografia é como participar da
mortalidade de uma pessoa (ou objeto). Precisamente por lapidar e cristalizar
determinado instante, toda fotografia testemunha a dissolução inexorável do
tempo”.
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